Lars Ulrich, baterista do Metallica, publicou um texto entitulado “Meu Erro Favorito” para o The Daily Beast, em outubro de 2011, em que conta uma história que aconteceu com ele e o diretor Quentin Tarantino. Confira abaixo a tradução completa.
Meu Erro Favorito
Lars Ulrich sobre dizer não a Quentin Tarantino
Quentin Tarantino quer jantar. OK, podemos arranjar isso… Uma semana depois, estamos em um restaurante em São Francisco, dividindo histórias sobre os vôos mais turbulentos que já pegamos, iniciando a partir de um voo particularmente horrível em que ele embarcou na China. Entre brincadeiras e meias-verdades, chegamos ao motivo da visita, que é sobre sua nova empreitada cinematográfica chamada Kill Bill.
Um dos 30 minutos mais surreais da minha vida foi ter Tarantino a 15 centímetros do meu rosto, olhos dançando, intensamente animado, explicando detalhadamente como ele escreveu e coreografou as duas cenas de luta principais para Enter Sandman e Sad But True. Punhos acertariam rostos nas notas musicais. Chutes seriam dados nos toques do chimbal. Corpos rolariam no ritmo da música. O próximo filme de Tarantino casado com a música do Metallica, tudo no volume máximo.
Eu já estava avançando 18 meses, sentando em um Enormodome, assistindo este espetáculo se desdobrar diante de meus olhos com o maior sorriso na minha cara. Verdadeira poesia cinematográfica em movimento. O maior casamento entre música e filme que o mundo já vira.
Nós ficamos inebriados com a idéia pelo resto da noite, e a empolgação continuou por dias. Finalmente, TA-DA! O roteiro. Todas as 180 páginas. Cara, era longo e denso. Mergulhei de cabeça na brincadeira. Mas aí algo começou a acontecer. Estória, linguagem, viradas, reviravoltas, piadas de kung-fu e jargões – quanto mais eu avançava, mais confuso eu ficava.
Página a página eu percebi que a maioria daquilo estava escrito em um idioma que estava além da minha compreensão. Eu nunca encontrei uma narrativa como essa, que acontece, para mim, em uma cultura bem estrangeira de artes marciais e mitos asiáticos. Minha cabeça dinamarquesa simplesmente não conseguia entender isso. Eu defendi todos os seus filmes, amei ele como pessoa mas, no final das 180 páginas eu fiquei meio confuso e nervoso por não ter entendido. Aí eu comecei a pensar “Faça isso, faça isso!” meu corpo gritava mas minha cabeça estava confusa. Cautelosa. Eu senti uma rara inabilidade de puxar o gatilho.
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Nas semanas seguintes a coisa toda murchou enquanto eu continuava não confiando nos meus instintos. No fim, eu nunca respondi a ele. Provavelmente, o maior erro que eu cometi no departamento criativo. Claro que Kill Bill foi mais que brilhante, assim como os filmes seguintes, que foram partes significantes da minha vida nos anos 2000.
Desde então eu venero o chão que Tarantino pisa.
Se apenas…
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