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Megadeth: a representação do Holocausto Nuclear “Rust in Peace”

Dando continuidade ao tema Holocausto Nuclear, iniciado com a análise da música “Set the World Afire”, do MEGADETH, seguiremos agora com a canção “Rust in Peace… Polaris” também da banda norte americana.

RUST IN PEACE… POLARIS

Megadeth – Álbum: Rust in Peace (1990)

Tremble you weaklings, cower in fear
I am your ruler, land, sea and air
Immense in my girth, erect I stand tall
I am a nuclear murderer I am Polaris
Ready to pounce at the touch of a button
My system locked in on military gluttons
I rule on land, air and sea
Pass judgment on humanity
Winds blow from the bowels of hell
Will we give warning? only time will tell
Satan rears his ugly head, to spit into the wind
I spread disease like a dog
Discharge my payload a mile high
Rotten egg air of death wrestles your nostrils
Launch the Polaris, the end doesn’t scare us
When will this cease
The warheads will all rust in peace
Bomb shelters filled to the brim
Survival such a silly whim
World leaders sell missiles cheap
Your stomach turns, your flesh creeps
High priest of holocaust, fire from the sea
Nuclear winter spreading disease
The day of final conflict
All pay the price
The third world war
Raped peace, takes life back to the start
Talk of the part
When the earth was cold as ice
Total dismay as the sun passed away
And the days where black as night

Eradication of Earth’s
Population loves Polaris

(Tradução) Enferruje em paz… Polaris

Você treme criatura fraca, se acovarda
Eu sou seu governante, sua terra, seu mar e seu ar
Imenso em meu cinturão, ereto eu estou alto
Eu sou um assassino nuclear, eu sou Polaris
Pronto para atacar ao toque de um botão
Meu sistema prendeu militares glutões
Eu governo na terra, no ar e no mar
Julgo a humanidade
Ventos sopram dos quintos do inferno
Se iremos avisar? só o tempo dirá
Satã levanta a sua cara feia, para cuspir no vento
Eu dissemino doenças como um cão
Descarrego meus mísseis a milhas de distância
O cheiro de ovo podre da morte invade suas narinas
Ative a Polaris, o fim não nos assusta
Quando isto cessar
Todas as ogivas irão enferrujar em paz
Os abrigos contra bombas estão totalmente cheios
A sobrevivência é como um simples capricho
Líderes mundiais vendem mísseis baratos
Seu estômago embrulha, sua carne se aflige
O grande sacerdote do holocausto, fogo vindo do mar
Inverno nuclear disseminando doenças
O dia do conflito final
Todos pagarão o preço
A terceira guerra mundial
Paz estuprada, leva a vida de volta ao inicio
Falo sobre a parte
Quando a terra estava fria como o gelo
Medo total enquanto o sol morria
E os dias ficavam escuros como a noite

A destruição da Terra
A população ama Polaris

Análise da Canção:

Essa música ocorreu a Dave Mustaine quando ele estava dirigindo pra casa vindo da cidade de Lake Elsinore, Califórnia, quando reparou num veículo que seguia a frente, que tinha no pára-choque um adesivo que dizia: “Tomara que todas as ogivas nucleares enferrugem em paz”. Imaginou aquelas velhas ogivas estocadas na praia com crianças fazendo pichação nelas, brincando como se fossem um objeto qualquer. O nome original da música seria “Child Sin”, e Dave a compôs ainda em seus tempos de Metallica, mas somente em 1990 é que a canção, repaginada, saiu da gaveta. (fonte: Site Megadeth Brasil).

Mais uma vez o medo da Guerra Nuclear assola a cabeça de Dave Mustaine e para essa canção, ele se inspirou em um desejo coletivo (adesivos que poderiam se encontrados em muitos carros nos EUA) pedindo que os arsenais fossem desativados.

Em 1990, o MEGADETH lança o seu quarto álbum de estúdio “Rust in Peace”, sucesso de crítica e público, considerado até hoje uma das obras primas da cena Thrash Metal. À época do lançamento já havia um acordo entre as potências mundiais (há uma alusão disso feita na capa do álbum) sobre o desarmamento nuclear. A música “Rust in Peace… Polaris” fecha o disco, e trata novamente sobre os perigos dos arsenais nucleares, mas dessa vez, sob uma ótica diferente, que para ser entendida é necessário, primeiro, esclarecer quem é a Polaris citada:

O projeto Polaris foi o primeiro SLBM (Submarine-Launched Ballistic Missile – algo como Míssil Balístico de Lançamento Submarino) liberado pela marinha Norte-Americana. Financiado e desenvolvido por volta dos anos 50 durante a Guerra Fria,tendo como intuito substituir o antigo míssil Regulus, tornou-se uma das mais importantes contribuições bélicas para os EUA desde então (fonte: Site Megadeth Brasil).

Para afirmar e justificar o sua referência, a música representa de forma figurada o lançamento do míssil pelo submarino nas passagens “Satan rears his ugly head, to spit into the wind” e “High priest of holocaust, fire from the sea”

Dito isso, agora podemos perceber que Mustaine utiliza uma prosopopéia para criar uma fábula em torno do míssil Polaris, onde o artefato bélico assume a posição de uma espécie de “deus” após uma guerra nuclear, onde após o “toque do botão” poucas bombas destroem tudo, e o restante do arsenal vai continuar estocado sem ninguém para detonar.

Há uma crítica à corrida armamentista das potências na Guerra Fria, que gastavam bilhões de dólares no desenvolvimento de armas de destruição em massa, apenas para dissuadir o outro lado a não as utilizarem. E o refrão é muito perspicaz em expor essa situação: “Launch the Polaris, the end doesn’t scare us /When will this cease /The warheads will all rust in peace”. Outra questão importantíssima está no desejo do homem comum expresso pela canção: “que todas as ogivas enferrujem em paz”, remetendo ao episódio que inspirou Mustaine a compor. As pessoas estavam com esperança que o bom senso prevalecesse, e que finalmente as potencias se desarmassem, acabando com décadas de tensão e desperdício de recursos. A humanidade, como um todo, almejava esse novo período de paz.

Percebe-se, também, uma crítica sarcástica de uma situação que se tornou comum com o final da Guerra Fria, quando diz: “World leaders sell missiles cheap”, nos remetendo diretamente à venda desenfreada de armas pelos governos dos países em grave crise financeira, tanto no bloco socialista quanto no mundo capitalista (HOBSBAWN, 1995, p. 250). Essa situação vai desencadear uma nova onda de terrorismo e corrida armamentista, que será analisada em um outro tópico.

Verificamos que a letra nos traz, tal como em “Set World Afire”, discussões que estão no âmbito do homem comum, mas também das academias quando se fala “Nuclear winter spreading disease”, se referindo às discussões feitas acerca da teoria do Inverno Nuclear, onde cientistas como o soviético Vladimir Alexandrov e o americano Carl Sagan, passaram a discutir e fazer prognósticos sobre os efeitos na natureza no caso de uma eventual guerra entre as potências. A letra segue, falando sobre os efeitos do Inverno Nuclear, após uma provável Terceira Guerra Mundial: “When the earth was cold as ice /Total dismay as the sun passed away /And the days where black as night”. A Teoria do Inverno Nuclear tomou bastante fôlego nos anos 80, e também aparece em outras expressões artísticas, como nos filmes da série “Exterminador do Futuro”.

Em sua parte melódica, a canção é dividida em duas partes. A primeira parte (Rust in Peace) começa com o som da bateria de Nick Menza, como o rufar de tambores que anunciam a guerra, e são a marca mais expressiva da música. As guitarras de Dave Mustaine e Marty Friedman entram com riffs poderosos, aumentando a tensão e dando o ritmo para o juízo final, tal como sugere a parte lírica.. A linha do baixo dá a base rítmica, mas que acompanha as guitarras e a bateria, criando uma canção homogênea. A base da canção está no ritmo da bateria, exatamente para dar a cadência progressiva desejada. A segunda parte (Polaris), entretanto, quebra essa cadência, acelerando andamento, mas ainda com todos os instrumentos seguindo o ritmo da bateria. Através dos efeitos na vocalização, a música consegue casa-se perfeitamente com a letra, quando sugestiona que é um “outro ser” que está falando. A ideia de que o míssil Polaris é o sujeito fica evidente quando analisamos também a parte sonora.

Aqui o medo da Guerra Nuclear ainda está presente, principalmente nas figuras de linguagem mais utilizadas durante o período, falando sobre o apertar do botão, no trecho “Ready to pounce at the touch of a button”. A imagem de um botão destruidor é tão poderosa, que atravessou o tempo, e ainda hoje é facilmente identificada, o que mostra que a obra doMegadeth tornou-se um documento para entender o não só o tempo em que foi escrita, mas nos serve para analisar as crises contemporâneas a respeito dos arsenais nucleares, como os casos do Irã (2009) e Coréia do Norte (2013).

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