Os Beatles são quase sempre uma unanimidade, enquanto que os Rolling Stones são quase sempre os eternos vices, não fosse pelos que preferem ir na contramão. Já aqueles que apreciam um peso maior podem optar por Led Zeppelin, Deep Purple ou Black Sabbath, entre outros. Quem não gosta de muita firula e prefere o básico pode ir de Ramones ou Motörhead. Já quem gosta de firula pode ir de Emerson, Lake & Palmer, Rush ou King Crimson. Para uns, Kiss, para outros Iron Maiden.
O fato é que qualquer texto afirmando o título acima, diz mais sobre o redator que, propriamente sobre a suposta “melhor banda de todos os tempos”. Isto porque a melhor banda de todos os tempos sempre foi e sempre será uma só: Elvis Presley na guitarra base e nos vocais; Scotty Moore na guitarra solo; Bill Black no contrabaixo; Johnny Bernero e, depois, D.J. Fontana na bateria.
Estiveram juntos entre 1954 e 1958 e, neste curto espaço de tempo, se tornaram para o rock o mesmo que Cristo foi para o cristianismo e Maomé foi para o islamismo. Só isso. Não criaram nada de novo. Criaram um novo jeito de fazer. Promoveram a integração de uma música segregada nos guetos culturais dos negros norte-americanos e a evidenciaram no “mainstream”.
Sem sombra de dúvidas, é sedutora a visão romântica de um Elvis como o ladrão branco surrupiando as performances dos artistas negros que admirava para se tornar um astro, pois se tornou comum a abordagem histórica enaltecedora das vítimas. Tal visão não só é sedutora como, também, é real. Ainda bem, senão não haveria rock. Pelo menos, não como há.
O resultado pode ser conferido na compilação de todas as gravações realizadas por Elvis na “Sun Records”, chamada “The Sun Sessions CD”, onde não somente as músicas lançadas mas, também, os “outtakes” e os “alternative takes” se mostram essenciais. Genialidade em estado bruto. Para muitos, o Elvis “da lata”, o supra-sumo do rock’n’roll.
Porém, as gravações realizadas pela “maior banda de todos os tempos” na gravadora “RCA Records”, após a assinatura de um contrato milionário até o ano de 1958, quando Elvis vai para o exército, apesar de um verniz linha de produção, são, igualmente, fundamentais.
Para se ter uma ideia, todos os ícones da guitarra elétrica da segunda geração roqueira, de George Harrison a Eric Clapton, de Jimi Hendrix a Jimmy Page, entre outros, prestaram reverência a Scotty Moore que, sem dúvida ergueu um dos alicerces sobre o qual se sustenta a “linguagem” da guitarra no rock. Bill Black tocava contrabaixo acústico e, apesar do instrumento limitar os movimentos do músico no palco, ele se saia com uma performance que só não se rivalizava com a de Elvis por ele não ser o centro da banda e por uma certa “gaiatice” sua. Dançava e estapeava o instrumento. D.J. Fontana estabeleceu a base percussiva definitiva do rock. O resto são adereços. No entanto, as maiores evidências caem sobre o vocalista.
Apesar das imagens e da captação sonora rudimentares, no Brasil, três DVDs dimensionam o incêndio que Elvis e banda causavam em cima do palco: um documentário da série “Classic Albums” sobre a gravação do primeiro álbum de Elvis na RCA; uma compilação de apresentações, geralmente em programas de televisão, chamada “The Early Years” e, por fim, um documentário narrado por Levon Helm, baterista da The Band, focado no ano de 1956, mostrando como um garoto pobre se torna, no espaço de dois anos, astro mundial (este último não possui legendas em português, dando mais um exemplo do “respeito” ao consumidor que existe no país).
Muito se falou, principalmente depois que o rock passou a se identificar com “atitudes mais cerebrais”, no fato de Elvis ter sido um imbecil manipulável pelas pessoas que o cercavam, geralmente com intuitos mal intencionados. Foi mesmo. Mas isto não foi somente sua perdição. Foi também o seu trunfo.
[to_like]Assistindo as imagens da época, tem-se a real dimensão do quão instintivas eram as performances que derramavam e atiçavam libido. O contra ataque conservador foi fulminante e não se restringiu às câmeras de televisão filmando Elvis “da cintura para cima”. A mentalidade sulista de menino pobre criado dentro das tradições religiosas fizeram de Elvis uma vítima fácil. Quando, em 1958, Elvis vai servir o exército, o incêndio tinha sido apagado. Mas as fagulhas já haviam se espalhado.[/to_like]